FUNDAMENTO HISTÓRICO - PARTE I LIÇÃO 2 — A HISTÓRIA DA CRUZ

05/04/2014 22:27

 

 IGREJA BATISTA DO BACACHERI – ESCOLA BÍBLICA DINÂMICA

 

TEOLOGIA DA CRUZ (baseado em A Cruz de Cristo, John Stott)

 

Prof. Eliseu GP (eliseugp@yahoo.com.br) — site: www.ebdonline.com.br

 

PARTE I — FUNDAMENTO HISTÓRICO

 

LIÇÃO 2 — A HISTÓRIA DA CRUZ

 

1) HISTÓRIA DA CRUZ: a cruz no mundo antigo

a) Invenção e desenvolvimento:

i) Tipo de execução criado pelos persas há mais de 500 anos antes de Cristo.

ii) Trazida para o ocidente no tempo de Alexandre Magno, no séc. IV a.C.

iii) Sabe-se que a prática foi adotada no Egito e em Cartago.

iv) Os romanos aprenderam usar a cruz com os cartagineses e usaram em grande escala; a cruz é citada por autores clássicos como Lívio, Cícero e Tácito.

b) Modelos:

i) Poste, estaca, polo: única barra vertical, na qual se pendurava o condenado

ii) Latino: barra horizontal (patibulum) fixada cerca de 1 metro abaixo do topo da barra vertical da cruz (stipes ou palum); modelo usado na crucificação de Cristo.

iii) Santo Antonio ou Tau (letra 't' grega): formato de 'T', com o patibulum (horizontal) fixado no topo do stipes (vertical); modelo comum nos dias de Cristo.

iv) Santo André: em forma de X

 

2) HISTÓRIA DA CRUZ: a cruz no mundo judaico

a) Pena de morte, segundo a lei de Moisés: pela espada (Ex 21), por estrangulamento, pelo fogo (Lv 20) e por apedrejamento (Dt 21).

b) Madeiro: pena terrível, aplicada a criminosos, apenas após o apedrejamento; é provável que a crucificação tenha se originado do hábito de pendurar vítimas em árvores como condenação ou sacrifícios religiosos.

c) Maldição: porque implicava em maldição divina — "o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus" (Dt 21.23); tal morte contaminava a terra, por isso a lei determinava que fosse sepultado antes do por do sol.

d) Cruz: os judeus não conheciam cruz, por isso faziam distinção entre o ‘madeiro’ e ‘cruz’, ou seja, entre enforcamento e crucificação.

e) Escândalo: por isso, não podiam crer que o Messias morreria sob a maldição divina, pendurado num madeiro.

 

3) HISTÓRIA DA CRUZ: a cruz no mundo romano

a) História:

i) Roma aprendeu a crucificar com os cartagineses e desenvolveram a técnica.

ii) Maior crucificação: ocorreu em 71 a.C., no tempo de Pompeu, em Roma, ao dominar a revolta de 200 mil escravos sob o comando de Espártaco (3ª Guerra Servil); foram cerca de cerca de 6 mil pessoas, no mesmo dia.

iii) A crucificação foi usada amplamente até ser banida do Império Romano, no séc. IV, por Constantino. Ainda é usado em países da África (como Sudão).

b) Tortura: o prisioneiro é despido e suas mãos são amarradas acima da cabeça em um poste para ser açoitado com um flagrum, chicote com várias tiras de couro e pequenas bolas de chumbo ou pedaços de ossos amarradas nas pontas; os golpes cortam a pele, a carne e as veias provocando muito sangramento; os pedaços de metais ou ossos dilaceram a carne ensanguentada do prisioneiro.

 

c) Procissão: o condenado era obrigado a carregar o patibulum (cerca de 50 kg) até o lugar da execução, onde o stipes ficava fixado permanentemente; a pessoa não carregava a cruz inteira, mas apenas a travessa horizontal.

d) Roupas: normalmente, o condenado era despido e crucificado nu, mas para os judeus era permitido um pequeno pedaço de pano para encobrir a nudez.

e) Pulsos ou mãos: os cravos eram pregados entre os ossos dos pulsos; se fossem colocados nas mãos, não seria possível sustentar o peso do corpo. "O equívoco pode ter ocorrido por uma interpretação errada das palavras de Jesus para Tomé, 'vê as minhas mãos'. Anatomistas, modernos e antigos, sempre consideraram o pulso como parte da mão" (Truman Davis)1.

f) Cordas: também era usada corda para amarrar os pulsos ou braços na cruz.

g) Pés e calcanhares: o pé esquerdo é empurrado para trás contra o pé direito e, com ambos os pés estendidos (dedos para baixo), um cravo é batido através deles ou calcanhares, deixando os joelhos dobrados moderadamente.

h) Bebidas: o vinho com mirra funcionava como um leve analgésico;

i) Patibulum: podia-se usar um pequeno travessão para apoio do quadril.

j) Titulus: ou pequena placa, com a inscrição do crime da vítima colocada em um mastro, levado à frente do condenado e depois pregado à cruz.

k) Altura: a maioria dos quadros da crucificação mostra cruzes muito altas, mas na verdade, a pessoa ficava a menos de 1 metro do chão.

l) Sepultamento: o corpo da pessoa crucificada não era sepultado, mas abandonado para ser comido por animais ou jogado nos lixões.

m) Local: sempre fora da cidade, mas em vias públicas para que o maior número de pessoas visse a execução.

n) Tipo de morte: combina vergonha e sofrimento; geralmente reservada para escravos, pessoas de baixo nível social, militares desertores e, especialmente, traidores; crimes como pirataria, assassinato, falso testemunho, motim, traição.

 

4) HISTÓRIA DA CRUZ: aspectos médicos

a) Dor: o peso do crucificado pendurado pelos pulsos causa dor insuportável; quando ele se apoia sobre os pés para aliviar os pulsos, a dor também é insuportável; o seu peso faz queimar e romper os nervos entre os ossos dos pés.

b) Cãibras: o cansaço dos braços provoca grandes ondas de cãibras, causando intensa dor; as cãibras tornam mais difícil se empurrar para cima.

c) Respiração: os músculos do tórax vão paralisando; ele consegue aspirar o ar mas não consegue expirar; a vítima luta para respirar, mas fica cada vez mais difícil; como resultado, o gás carbônico se acumula nos pulmões e no sangue, e as cãibras diminuem; com o tempo, a pessoa consegue se levantar e respirar.

d) Coração: dor profunda no peito, porque o coração não consegue mais bombear o sangue; o pericárdio se enche de líquido que comprime o coração; a perda de líquidos dos tecidos atinge um nível crítico; o sangue fica espesso; os pulmões respiram com muita dificuldade.

e) Sede: a desidratação provoca sede intensa. Jesus: “Tenho sede!” (Jo 19.28).

f) Quadro geral: apesar do sofrimento, a pessoa não morre rápido; ela passa horas de dor sem limite, ciclos de contorção, câimbras nas juntas, asfixia intermitente e parcial, intensa dor pelo contato com a cruz na carne ferida.

g) Morte: não atinge diretamente órgãos vitais, por isso a morte pode durar horas ou até três dias; a pessoa morria por asfixia e parada cardíaca, porque a cabeça pendia sobre o peito e impedia a respiração; para apressar a morte, os soldados podiam quebrar ossos das pernas e braços.